sábado, 23 de março de 2013

Poemas dos amigos Licorneanos: PAULO BRÁS - II



ele mesmo te dirá o que deves fazer
deitado a seus pés como um cão
com o coração num contínuo
limiar da porta



verdes as nossas ruínas
e a cidade que tem um nome
que vem de ti



pelos frutos os conheces
há choro e ranger de dentes



entristeço quando ouço poesia
baixo os olhos em sinal de respeito
e rezo para que a tua língua ache
o caminho estreito da minha casa



escrevo para ordenar a febre
deixo crescer o cabelo
para te enxugar os pés
não tenho mãos para dizer adeus



onde estiver o meu corpo
a tua mão no meu pescoço
não ficará pedra sobre pedra



demoro-me nos retratos
com o tempo de quem disseca um cadáver
prazer que não nos concedemos no dia a dia
encontro na beleza uma a uma pacientemente
falhas que te dizem menos do que perfeito
e me fazem amar-te mais



Paulo Brás tem 24 anos. Entre fevereiro de 2011 e fevereiro de 2012 leu integralmente a Bíblia Sagrada e recombinou motivos e citações de forma não-aleatória. Este é um trecho do seu livro morse: o corpo distribuído (ainda inédito).

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