sexta-feira, 28 de junho de 2013

CONTRAMINA, de Ruy Ventura


Contramina lido por António Carlos Cortez - JL, 26/6/2013

..."Noutras ocasiões tinha já lido Ruy Ventura. Por exemplo, quando li Instrumentos de Sopro. Vi, por essa altura, a proximidade deste autor com Fiama, é certo. Mas também com certo Carlos de Oliveira, aquele que mais tangencialmente está dum telurismo que nada tem de Torga, mas deve muito ao universo vivificador dum João Cabral de Melo Neto. Não falo dum telurismo sequer religioso. Apetece-me, antes, relacionar essa vontade de recriação do mundo, tal qual a lemos em Ventura, com a vontade de criação dum mundo de palavras que é sempre, bem vistas as coisas, o mais alto desígnio da poesia. Se a nossa relação com o mundo se faz por meio da linguagem, o poeta afirma-se nesse telos único e talvez último que é o de saber que tudo começa e acaba nas palavras. Talvez por esse motivo Contramina  seja um livro armadilhado, mais do que qualquer dos outros livros anteriormente publicados por Ruy Ventura. E essa armadilha está no modo como a teia, a trama e o tecido são objecto de um tratamento a todos os níveis – apetece dizer - «operático», como se (e daí Fiama e Carlos de Oliveira), todas as cenas tivessem lugar no texto e não fossem pensadas para a representação de facto. A religiosidade que possamos ver nesta poesia é, neste sentido, a religiosidade própria de quem sabe que o fenómeno poético – como quis, em tempos, Jean Onimus – é um fenómeno essencialmente espiritual porque é essencialmente «de linguagem» e é na linguagem que figuramos o mundo e o podemos, se quisermos, subverter ou a partir das palavras compensar a falha estrutural do nosso ser e estar no mundo."...

Sem comentários:

Enviar um comentário

os amigos da editora