quinta-feira, 2 de maio de 2013

Fernando Guimarães sobre CONTRAMINA, de Ruy Ventura

Há aqui uma apesar de tudo dispersiva tonalidade dramática que, como diz António [Cândido Franco], deriva de um “breviário pessoal de vozes”. Esse tom é de certo modo apocalíptico, mas apaziguando-se na deriva de uma imaginação que prepara uma espécie de epifania quando a vida recomeça “nas árvores, na pedra, noutros pedaços da madeira de Deus”. Mas, ao lado disto, resta a surpresa de assistirmos àquele momento em que a autoria, no poema, ou os personagens, no teatro, são postos em questão através de outras vozes. Um dos nomes ou personagens do livro acabará mesmo por dizer que “nada recebo de uma voz distante”. É como se este fosse, afinal, o segredo último da imitação daquelas outras vozes a que se referia Robert Bréchon.

JL, nº 1111, de 1 a 14 de Maio de 2013: 16 – 17.

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