sábado, 23 de fevereiro de 2013

Poemas de amigos licorneanos: PAULO BRÁS



DEDICATÓRIA


nenhuma musa algum dia me servirá

de guia as mulheres não me excitam

se faço ekphrasis de cicatrizes

a homens as devo deles falo



Rilke

 nasce no ano em que rimbaud deixa de escrever rimbaud morre e rilke conclui que poeta é quem escreve por necessidade do erro de rilke descende a falácia da angústia da página em branco disseram-me em tempos que não sou nenhum rimbaud definir os limites é criar o sagrado insuflar-lhe pelas narinas o sopro da vida forster deixou de escrever depois de perder a virgindade numa praia egípcia com um soldado ferido faria deixou de escrever e dedicou-se à filosofia nassar deixou de escrever e dedicou-se à agricultura há quem tenha voltado a escrever nas costas do homem que ama há quem nunca tenha podido tocar sequer as mãos do homem que ama



PARALLEL PLAY
sentado a teu lado já estamos em contacto e isso é suficiente mesmo que não tire os olhos do meu brinquedo nem o faça rolar para o meio das tuas pernas bastam pequenas coisas o leve roçar dos agasalhos largados no chão pelo mero prazer de cada um e não de um para o outro a mão que não toca mas que se sabe amor que se sabe estar lá



Paulo Brás tem 24 anos. Entre fevereiro de 2011 e fevereiro de 2012 leu integralmente a Bíblia Sagrada e recombinou motivos e citações de forma não-aleatória. Este é um trecho do seu livro morse: o corpo distribuído (ainda inédito).


J. Stanley Connor



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